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Cumprir a Lei de Deus Que nos Liberta!

Dom  Anuar Battisti

Arcebispo emérito de Maringá, PR

 

Estamos iniciando o mês de setembro. Já no primeiro dia do mês que, na Igreja no Brasil, é o mês da Bíblia iremos celebrar a nossa Páscoa semanal. Como é bom em família participar da Santa Missa a cada domingo. Isto vivifica o cumprimento da Lei de Deus. A liturgia do 22.º Domingo do Tempo Comum propõe-nos uma reflexão sobre a “Lei de Deus”. Deus tem procurado, com as suas sugestões e propostas, ajudar os seus filhos e filhas a encontrar o caminho que conduz à Vida. Convém escutar e acolher as indicações que Ele dá. Mas o coração do homem não deve centrar-se no mero cumprimento de leis externas, mas sim no amor e na comunhão com Deus.

Neste mês de setembro celebramos o Mês da Bíblia que refletiremos o Livro do Profeta Ezequiel, com o lema: “Porei em vós o meu Espírito, e vivereis”. Com este intuito, também, no dia de hoje fazemos memória do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. Este dia nos recorda a sagrada responsabilidade de cuidar de tudo aquilo que o Criador nos confiou.

Nós somos a religião do Livro e da Palavra: não de uma palavra morta e sem vida; mas da Palavra encarnada, Jesus Cristo, Filho de Deus. Neste mês da Bíblia, acentuando a centralidade das Escrituras Sagradas na realidade de nossas comunidades, como Igreja da Palavra, desejamos que ela seja “encarnada” cada vez mais na vida de nosso povo, levando-o à conversão e à salvação.

Na primeira leitura – Dt 4,1-2.6-8 –, Moisés convida o povo libertado do Egito a escutar, acolher e pôr em prática as leis e preceitos de Deus. Se Israel se deixar conduzir pelas indicações de Deus, sem as adulterar e sem as desprezar, encontrará o futuro de liberdade e de Vida abundante que busca ansiosamente. Perpassada pelo refrão “ouve, Israel”, é uma memória perene para que Israel escute e acolha, guarde e pratique a Palavra que o Senhor lhe dirigiu, todos os seus mandamentos e orientações. Se o povo assim fizer, Israel terá vida em abundância e entrará para a posse da terra que Deus prometeu. Feliz e sábia é a nação com leis que melhoram a vida das pessoas, especialmente das mais necessitadas. É importante acolher a Palavra de Deus e deixá-la iluminar e conduzir nossos caminhos. Ela estabelece uma amizade sólida entre as pessoas e Deus, pois este se revela próximo do povo, com o qual caminha.

No Evangelho – Mc 7,1-8; 14-15;21-23 –, Jesus alerta para os perigos do “legalismo”: a absolutização que os fariseus faziam da Lei vai em sentido contrário ao projeto original de Deus. Os adversários de Jesus – fariseus e legalistas – debatem com ele sobre a questão do “puro e do impuro”. As práticas dos fariseus são questão de higiene, e não de pureza ou impureza. Esses grupos procuram maquiar a Palavra de Deus com tradições humanas. Em outras palavras, procuram manipulá-la para defender seus pontos de vista. O Mestre Jesus, baseado no profeta Isaías, mostra o risco de honrar a Deus só com os lábios, enquanto o coração fica longe dele. A maldade está no próprio coração, e é nele que nascem as imoralidades e tramas contra as pessoas. Uma vivência religiosa que absolutiza a Lei impede que o crente possa fazer uma verdadeira experiência de encontro com Deus. As leis podem ajudar a delimitar o caminho; mas nunca devem sobrepor-se ao amor e à misericórdia. Nós devemos acolher interiormente e praticar a Palavra do Senhor, de modo que não seja somente um ato externo, um ritualismo sem sentido.

Na segunda leitura – Tg 1,17-18.21b-22.27 – fala-se de uma “boa dádiva”, de um “dom perfeito” vindo de Deus: a “palavra da verdade”. Essa “palavra da verdade” é a Palavra evangélica, dom de Deus que proporciona o nascimento para uma Vida nova a todos aqueles que se dispuserem a acolhê-lo. “Sede praticantes da Palavra” (Tg 1,22). Não devemos ser meros ouvintes, mas devemos deixar que a Palavra nos desinstale, converta e faça homens e mulheres novos, renascidos em e de Deus. A Palavra de Deus nos leva a viver uma vida melhor. Praticá-la significa viver uma religião agradável a Deus, que deseja proteção ao órfão e à viúva – representantes dos pobres –. Pois a verdadeira religião é compromisso com o amor fraterno.

A vida é bonita. É isso que Jesus nos quer ensinar quando se confronta contra o legalismo e a hipocrisia dos fariseus e doutores da Lei. Ainda hoje há, na Igreja e no mundo, muitos legalistas e hipócritas que usam a Palavra de Deus e o Direito Canônico só para perseguir, destruir e aniquilara as pessoas. Nosso coração deve ser um templo, limiar entre o sagrado e o profano. Porque só a caridade e o amor – leis libertadoras – que geram misericórdia e compaixão enobrece.

Então a Igreja nos convida não apenas a ouvir, mas também a praticar a Palavra de Deus. Ela nos propõe princípios que favorecem a vida do povo e nos previne contra uma religiosidade de aparências.

 

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