A Terceira Catequese da Quaresma: Penitência e Conversão
Dom Anuar Battisti
Arcebispo emérito de Maringá (PR)
A Quaresma é um período especial no calendário litúrgico da Igreja, um tempo de oração, jejum e caridade, no qual somos chamados a uma renovação espiritual em preparação para a Páscoa. Durante essas semanas, a Igreja nos oferece reflexões catequéticas para aprofundar nosso caminho de fé.
A terceira catequese da Quaresma tradicionalmente foca na penitência e na necessidade de conversão. Mais do que práticas externas, a penitência deve levar a uma transformação interior, tornando-nos mais sensíveis à voz de Deus e mais comprometidos com o bem do próximo.
A penitência sempre teve um papel fundamental na relação do ser humano com Deus. No Antigo Testamento, os profetas constantemente chamavam o povo à conversão. Um exemplo marcante está na pregação de Jonas: ao anunciar a destruição iminente de Nínive, viu a cidade inteira se arrepender e Deus lhes conceder o perdão (Jonas 3,1-10).
No Novo Testamento, João Batista pregava a necessidade do arrependimento como preparação para a chegada do Messias: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2). Jesus também nos convida à conversão, demonstrando que o perdão de Deus está sempre disponível para quem se abre à sua graça.
Na terceira catequese da Quaresma, refletimos sobre essas passagens e somos convidados a perguntar: Como tenho vivido minha relação com Deus? Tenho buscado uma verdadeira conversão de vida?
A penitência não se limita a ações isoladas, como jejuns ou orações ocasionais. Ela deve ser um estilo de vida, um esforço contínuo para nos aproximarmos de Deus e corrigirmos nossas falhas. Podemos praticá-la de diversas formas:
Mais do que evitar alimentos ou prazeres, a penitência verdadeira exige um coração contrito. Isso significa abandonar comportamentos que nos afastam de Deus e buscar uma vida mais alinhada com os ensinamentos de Cristo.
Por exemplo, se há ressentimentos em nosso coração, a verdadeira penitência será o esforço para perdoar. Se temos dificuldades com orgulho ou impaciência, podemos buscar mais humildade e mansidão.
As três práticas tradicionais da Quaresma nos ajudam a viver essa conversão:
- Jejum: Reduzimos o consumo de alimentos como forma de disciplina espiritual, lembrando-nos de nossa dependência de Deus e nos unindo ao sofrimento dos que passam necessidade.
- Esmola: A caridade é um ato de penitência, pois exige que abramos mão do que temos em favor do próximo. Não se trata apenas de dar dinheiro, mas de doar tempo, atenção e compaixão.
- Oração: A Quaresma é um tempo propício para fortalecer nossa vida de oração, buscando um relacionamento mais íntimo com Deus.
A conversão não é apenas individual. Como membros da Igreja, somos chamados a viver a penitência também em comunidade. Isso se expressa na participação na Santa Missa, no Sacramento da Reconciliação, no compromisso com a justiça social e no serviço aos irmãos.
O Papa Francisco frequentemente nos recorda que a penitência não é um castigo, mas um caminho de amor. Ele nos convida a viver a Quaresma com generosidade, abrindo nossos corações a Deus e aos necessitados.
A terceira catequese da Quaresma nos chama a um profundo exame de consciência e a um compromisso de mudança. Deus não deseja simplesmente que pratiquemos rituais, mas que tenhamos um coração renovado.
Ainda há tempo para dar um passo concreto rumo à conversão. Que possamos aproveitar esta Quaresma para nos reconciliarmos com Deus, renovarmos nossas atitudes e nos prepararmos dignamente para celebrar a Páscoa, a vitória da vida sobre a morte.
Que Maria, Mãe da Igreja, nos ajude a viver esse tempo com fé, esperança e amor.
Amém!
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